terça-feira, 30 de outubro de 2007

Vamos?


Um menino andava sozinho pela cidade natal. Ele achava que, cavucando os não-lugares do espaço e da memória, acharia o que há de lirismo nas coisas.

Uma menina andava sozinha pela cidade não-tão-estranha-assim. Ela achava que, sublimando a realidade objetiva e suas contradições, encontraria um conforto para sua alma inquieta e para o seu grande coração.

Quando se encontraram, ela disse: "Me empresta as tuas lembranças mais ternas da cidade para que eu possa me encontrar dentro dela?"

Ele respondeu: "Claro, mas cuidado com os não-lugares!"

"Não-lugar? O que é isso?"

"São lugares sobre os quais memória alguma imprimiu o contorno de um lápis e as cores de aquarelas."

"Hum... Impossível não cruzar com eles por aí..."

"Verdade, mas minha intenção não é bem desviar deles: quero sim mergulhar nesses espaços em busca de cores escondidas. Quero livrá-los de tanto cinza!"

"Ora, mas para quê? Aceita o cinza como uma transição entre cores..."

Os olhos do menino se arregalaram e um novo mundo se descobriu para ele. Quando abria a boca para dizer algo, a menina convidou:

"Vamos velejar pela cidade? Você me mostra as coisas bonitas e eu te digo que elas são eternas!"

Na plenitude do momento, ele respondeu:


"Sim, vamos!".

Um comentário:

Diane Muste disse...

radiolas velhas, amantes...