domingo, 29 de agosto de 2010

Desejado




Caminharei no teu olhar,
Por entre as sendas de tua íris:
rajadas de vento, ansiando o corte
que arrastará consigo nossos segredos.

Afastarei com cuidado
Os grãos de areia que,
revoando em ciclones castanhos,
rebatem em meu rosto refletido.

Terei sede quando, enfim,
Meu corpo escasso pedir socorro
E meus poros suarem toda a miragem
que,
tão longo,
habitou fundo a minha casa.

Assim,

Estancando o respiro
que antecede a palavra,

Acordarei deste sonho.

E as imagens,
concatenadas numa manhã de tanto esmero,
Serão apenas parcas lembranças:

Peças desconexas de brinquedo
Passando de dedo em dedo,
Enterrando-se em terra úmida,
Esperando o esquecimento;

Letras indecifráveis
De um manuscrito antigo,
Meneando-se melosas,
Feitas cantigas recitadas por crianças;

movendo-se do giro
do próprio ocaso;


tramontando o desejo
de existir
no tempo.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Le déplacement



Sonhei
Os ecos do meu próprio gesto:
Arco sobre a sombra,
Pesada em ausência,
Carente de um novo sacrifício;
Consciente

de seu primeiro
descompasso.

Vi
Os sulcos no meu reflexo:
Cravagem desastrosa,
Reféns confessos
Dos choques contínuos
Do obturador;

testemunha
do sono incompleto.

Assisti,
Convoquei-me:
Por ardente decreto,
Ao desmantelamento
Do meu próprio corpo,
À inevitável queda

de cada mácula
despencando do nu...

...irremediavelmente compresso
ao inevitável momento da vergonha.