domingo, 8 de novembro de 2009

O que é um abismo entre nós?





Querida, por favor, aceite este presente. Não é uma adaga, tampouco um crucifixo: é simplesmente o éter confuso de dois corpos enlaçados em suor, lágrimas, desespero. Assisti à passagem de um som familiar - uma canção conhecida - que se fez eco distante. Ainda assim, este ruído me parece sublime: a explosão, o choque de mil almas tão retorcidas, tímidas. Contração de dois corações seguida de uma diástole que se estende de tal forma a ultrapassar nossos corpos e tocar tudo que nos envolve.

Querida, por favor, aceite esta visão do mundo secreto desvelado... segredo tão mal guardado. Como diz o poeta:

"Down by the railway siding
In our secret world, we were colliding
All the places we were hiding love
What was it we were thinking of?"

No que estávamos pensando quando desafiamos o mundo? Não há perdão para isso, todos devemos pagar na carne - em nossos olhos inchados - a eterna culpa. Como ousamos erigir monumento tão belo? Por que colocamos tantos balões em volta do nosso lar se sabíamos que a gravidade é implacável?

Querida, solto da sua mão. Momentaneamente, no entanto. Espero você atrás da porta, na volta da esquina, na mirada de uma passante que se recusa a desviar os olhos.

Minha pergunta ainda é a mesma: vamos?


Vamos.