sexta-feira, 23 de abril de 2010

Museu japonês




Abro a caixa de lembranças
E signos,
indecifráveis,
escorregam em suas bordas:

O destino rasgado em silêncio,
O assobio frio de junho,
E todos os cantos da vida,
que não se mostram à imaginação.

A intumescência dos vãos -
Preenchendo de vertigens os odores balsâmicos,
Nos corredores do museu japonês -
Fez urgir, na respiração presa, a pergunta:

Durmo?



Quero acordar.

domingo, 11 de abril de 2010

Deitou




Bate, bate
Saudade rebate,
Num’alma sem tempo para errar.
E o vento,
Que não é mais jovem,
S’enlaça
No canto e na dobra,
Revoa a poeira do eterno soçobrar.

Queimam, queimam
Cílios requeimam,
De tão pura distância do sol.
E o tempo,
Que não é mais ébrio,
Se encurrala
Entre o ser e o vazio,
Envelhece a quem lhe dirige o olhar.



Bate, bate
Saudade rebate,

Cresce saudade em mim.
Cresce saudade de mim.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Descoberta





Te encontro ali,
na esquina,
como o vento que nasce da confusão das ondas:

penteia a areia
e acaricia os amantes

- tranqüilos -

de mãos dadas sobre o pôr-do-sol.



Te encontro no sobressalto da vida,
Na arritmia das horas,
No cruzamento das nossas pernas com o eterno:
Na dama-da-noite que ri do tempo,
– É o cheiro de infância,
o odor da velhice;
a madrugada longa –

É o risco azul na escuridão prenhe da manhã.


Te encontro em outras e outros,
Tantos outros
Tant'outro
Que, rasgado no espelho,
Sou eu mesmo...

...descoberta:



Te encontro em mim,
No rendado tecido onírico,
Que afoga Chronos
no desespero das horas passadas,

futuras.


E,
quando,
na respiração
entrecortada,
fremida,
premente,
os olhos, abertos,
soluçarem um balbucio:

'agora'.