quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Continuação

Como resultado do meu último post, surgiram muitas respostas. Selecionei aqui as que mais contribuem para a continuidade da discussão e resolvi postá-las para dar mais visibilidade à discussão assim como as respostas dos outros.

PS: Faustina, ainda aguardo a sua resposta!

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Andréa

Não sei se entendi tudo, aliás, tenho quase certeza que não (heheh)! Mas alguma coisa, sim, e, do que pude entender, achei teu texto bom. E bem, corrija-me se no que eu escrevo há algo que seja fruto de minha má compreensão.

Bom, tenho a impressão que há um acordo sobre a natureza do que se denomina “motor da história”, quero dizer, suponho que todos concordam ou concordaram que o que move a história não é alheio aos seres humanos, que a história é por excelência um produto das relações sociais, nas quais um componente subjetivo existe, necessária e essencialmente. Com isso quero dizer que, sim, penso que seja certo dizer que relações sociais não são concretas, no sentido que elas não existem como algo material ou materialmente perceptível. É evidente que as relações sociais não têm existência física e que, sendo relações, pressupõem mais de uma pessoa para que aconteçam num determinado tempo e espaço. Do que se diria, então, por decorrência lógica, as relações são um acontecimento do instante. Ok.

Mas há umas coisas que não entendo ou, pelo menos, não teria tanta certeza em afirmar. A primeira, o que se entende por realidade. Porque se “a realidade das coisas se resume ao fato de que suas aparições e suas manifestações não dependem do meu ser; ou seja, sua existência está ligada a uma razão que não depende do meu bel-prazer” - e eu entender, conforme se parece querer dizer, por ‘o que depende do meu ser’ como algo que é subjetivo - então, por decorrência lógica do que foi dito, as relações sociais não existem ou não são reais. Contudo, por mais que eu tente, não consigo achar que só o materialmente existente seja real. Para mim, o fato das relações serem efêmeras não quer dizer que não existiram, que não foram reais enquanto estavam acontecendo. Exemplifico: um professor estabelece um tipo de relação com seus alunos durante uma aula; essa relação, que envolve a subjetividade dos alunos e do professor, ainda que não necessariamente implique o que se chamou de consciência reflexiva, é real, está existindo, enquanto dura a aula. E, se isso é verdade, um tipo de relação existe enquanto for reproduzido, quero dizer, por exemplo, a escravidão não existe porque não acontece mais, ainda que tenha sido real, existente, num determinado espaço e tempo passado. Isso é o que me permitiria dizer que ao longo de toda a história do Brasil colônia e do Brasil Império a escravidão existiu, que esse tipo de relação social era uma realidade.

E, por conseqüência dessa minha forma de ver as relações como realidade, teria mais cautela ao afirmar que “Tal realidade e suas manifestações fenomenológicas têm necessariamente que se conectar de maneira transcendente, senão tais manifestações se fechariam sobre a maneira subjetiva através da qual somos afetados”. Quer dizer, entendo que através das relações que estabelecem entre si os homens compõem parte da realidade, transformando-a ou reproduzindo-a. Noutras palavras, ainda que a realidade do mundo físico exista de forma independente aos seres humanos, estes podem atuar sobre esse mundo físico, criando uma outra realidade pelas relações que estabelecem com esse mundo físico e, não apenas assim, mas também pelas relações que estabelecem entre si. Caso contrário, a realidade e a história seriam coisas completamente separadas uma da outra. Contudo, como entendo, o que move a história não pode ser visto como algo externo a nós exatamente pelo fato de que, estando em relação com o mundo, não só estamos submetidos a ele, mas também interferimos nele.

Por isso, ainda gostaria de considerar mais duas coisas. Uma que se ‘o homem’ pode mesmo, através das suas relações, interferir sobre a realidade - quer dizer, se a história é ‘dos seres humanos-, isso significa que, mesmo que as relações sejam um acontecimento efêmero, elas implicam pressupostos e conseqüências que as ligam a outros momentos do tempo e a outros espaços diferentes daqueles nos quais aconteceram, independentemente da consciência ou da memória humana, seja dos que participam daquelas relações ou não. Com isso não quero dizer que as narrativas e seus significados não sejam um produto da nossa consciência reflexiva, mas que entendo que, num momento ainda anterior a essa consciência, os instantes interconectam-se uns aos outros através dos pressupostos e conseqüências ou efeitos das relações, pois mesmo que elas tenham, necessária e essencialmente, um componente subjetivo, isso não implica uma plena consciência do seu sujeito ou do seu observador sobre a mesma. Eu chamaria isso de processo histórico. Um ex tosco: uma firma contrata trabalhadores para produção de carros (o que significa uma relação de trabalho) de um novo modelo com nova tecnologia de combustível (significa uma nova relação com o meio físico) na expectativa de vencer o concorrente externo (significa uma relação de concorrência com previsão sobre o futuro) e aumentar seus lucros (significa uma relação de apropriação), no que está pressuposto a existência de um mercado de carros (significa relação de compra e venda e de competição entre as firmas) e o uso deste tipo de transporte (tipo de consumo, status etc); essa decisão trará conseqüências ao mercado de carros e de trabalho e até pode ser frustrada por n motivos não previstos, a firma ser adquirida pela concorrente externa (significa uma mudança na relação de concorrência) ou as compras de carros aumentarem; e tudo isso independente do que os envolvidos pensem sobre os efeitos ecológicos e econômicos do transporte por meio do carro, o seu significado político etc. Enfim, a idéia é que o momento de cada relação interconecta-se com os outros por meios das próprias relações, seus efeitos, conseqüências e pressupostos; e que por essas relações, que muitas vezes têm produtos concretos (os carros produzidos, os contratos efetuados e refeitos etc) se interfere na realidade, gerando a história.

Por fim, acho que uma diferenciação entre as relações pessoais e sociais também poderia nos ajudar a pensar. Não acho que essa separação exista de maneira evidente. Ao contrário, todas as relações da nossa vida são, simultaneamente, pessoais e sociais, mas em alguns momentos convém destacar mais um lado que outro. Digo isso por um motivo muito simples: as relações sociais têm uma duração longa, além do seu tempo de duração efetiva, que não está só na memória daqueles que a vivenciaram, mas materializada nas diversas formas de organização das relações sociais. Por ex, as leis que servem para tentar coagir os indivíduos a relacionarem-se de tal ou qual forma, a moral religiosa ou laica que constrange as relações que fogem ao padrão estabelecido etc. Essa materialização das constrições às relações sociais nem sempre existe e nem é necessária para caracterizar uma relação social, mas acredito que sirva para indicar quanto uma certa relação é importante numa dada sociedade, portanto, como se encadeiam às outras sociais, construindo a história, e por que há relações tão mais consolidadas e difíceis de se alterar que outras.

Provocação:
O muro de Berlim caiu, não existe mais. Mas a venda do trabalho, a acumulação do capital, a concorrência entre as grandes empresas multinacionais, as guerras entre as nações para exploração dos recursos alheios, isso tudo continua, ainda existe. Moral dessa história: Há certas relações sociais por ai muito mais difíceis de transpor que muitas paredes.

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Felipe

Andréa, concordo com quase tudo que você disse. Vou apenas responder a alguns pontos do seu texto.

A primeira, o que se entende por realidade. Porque se “a realidade das coisas se resume ao fato de que suas aparições e suas manifestações não dependem do meu ser; ou seja, sua existência está ligada a uma razão que não depende do meu bel-prazer” - e eu entender, conforme se parece querer dizer, por ‘o que depende do meu ser’ como algo que é subjetivo - então, por decorrência lógica do que foi dito, as relações sociais não existem ou não são reais.

Primeiramente, a minha intenção com esse trecho que você destacou era a de mostrar que a a natureza das relações sociais é completamente diferente da natureza da 'realidade empírica'. Portanto é insustentável uma Ciência Social atribuir a si o estatuto de ciência do concreto. É claro que as relações sociais existem e são reais, seria um absurdo dizer que não. Aliás, como bem disse o André, eu poderia ter maneirado na hora de utilizar tantas vezes a palavra 'realidade', porque pode criar um mal-entendido, como de fato aconteceu. O meu esforço em falar dos objetos do mundo como algo 'real' se deu no sentido de evitar tal concepção: se a nossa relação com o mundo é necessariamente uma relação subjetiva, se levarmos isso às ultimas conseqüências, talvez estejamos vivendo uma grande ilusão na qual as coisas à nossa volta não passam de devaneios da nossa mente. Foi para refutar isso que eu disse que as coisas existem independentemente da nossa vontade; tais coisas têm razões-de-ser, ou essências, que independem de nós. Essa razão de ser é em si aquela dupla face que eu comentei: o infinito no finito, ou seja, infinitas manifestações fenomenológicas coextensas a uma razão-de-ser finita. Entende?
Agora, dizer isso não significa dizer que o mundo está imune ao homem. Nós interferimos nele tanto simbolicamente como concretamente.

Para mim, o fato das relações serem efêmeras não quer dizer que não existiram, que não foram reais enquanto estavam acontecendo.

Concordo plenamente. Aliás, eu acredito que o que existe de mais real para nós são essas coisas que se arrastam pelas bordas do instante. As relações sociais são extremamente reais no sentido de que elas podem desaparecer no limite do momento, mas elas têm um grande peso na maneira como veremos o mundo posteriormente.

Uma que se ‘o homem’ pode mesmo, através das suas relações, interferir sobre a realidade - quer dizer, se a história é ‘dos seres humanos-, isso significa que, mesmo que as relações sejam um acontecimento efêmero, elas implicam pressupostos e conseqüências que as ligam a outros momentos do tempo e a outros espaços diferentes daqueles nos quais aconteceram, independentemente da consciência ou da memória humana, seja dos que participam daquelas relações ou não. Com isso não quero dizer que as narrativas e seus significados não sejam um produto da nossa consciência reflexiva, mas que entendo que, num momento ainda anterior a essa consciência, os instantes interconectam-se uns aos outros através dos pressupostos e conseqüências ou efeitos das relações, pois mesmo que elas tenham, necessária e essencialmente, um componente subjetivo, isso não implica uma plena consciência do seu sujeito ou do seu observador sobre a mesma.

Nenhum homem é uma ilha. Por isso não gosto do conceito de indivíduo. Conectamo-nos a outros espaços e a outros tempos históricos sim, mas não de uma maneira transcendental; o elemento dialético faz com que a resignificação seja constante, ou seja, no momento em que eu olho para o mundo, o olhar que eu lanço para ele é o da tradição. Mas, mais uma vez, tal conexão está dentro de nós: não está em um 'espírito da história'. Por isso não concordo quando você diz que isso não implica em plena consciência do sujeito. Implica sim, afinal toda ação é uma ação crítica (não no sentido analítico, mas no sentido de não olhar neutramente para as coisas). Talvez não percebamos, mas a consciência trabalha incessantemente: como disse o Sartre, não existe consciência sem a consciência de que ela existe.
Mas eu acho que o você quis dizer é que nós talvez não saibamos, mas estamos inseridos em algo maior do que nós mesmos: um processo histórico. Bem, com relação a isso eu tenho muitas ressalvas. Acho que esse 'algo maior' seja também um recurso analítico do qual o pesquisador lança mão. É lógico que em qualquer sociedade há uma rede complexa de relações sobre as quais as ações dos sujeitos têm uma conseqüência; mas elas só têm uma conseqüência porque há pessoas envolvidas nesse processo. Mais uma vez temos que ter o cuidado de não atribuir a um efeito o estatuto de causa.

E, por fim, eu não acredito nessa separação entre relações sociais e relações pessoais. Podemos até separá-las na hora de uma análise, mas elas são a mesma coisa: e, no fundo, é isso que é bonito nas Ciências Sociais.

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Bárbara

Bier!
Fiquei incomodadíssima com esse texto! Não podia perder meu posto de chata e deixar de comentar.
Como assim, a história se realiza no momento e as relações sociais se reproduzem no plano das idéias?
Sartre é um defensor feroz do materialismo histórico e do pouco que eu entendo, está longe dele acreditar que não haja nada externo que faça os homens fazer história...
Aí é importante sacar o diálogo filosófico: com quem ele está falando e o que é o projeto existencialista sartriano? é um resgate do marxismo que, na experiência histórica (e aqui, ação não vem separada de construção teórica) separou ser e saber, teoria e prática...
Quando ele fala da consciência, apenas diz que ela é formada pela experiência. E essa não é desinvestida de materialidade (é pura materialidade).
Mas essa é apenas a razão. O problema é a passagem do mundo kantiano para o hegeliano: como resolver o problmea da ação?
Aí é que vem o lance do indivíduo na história e o seu resgate, já que o economicismo o tinha relegado a um milésimo plano. Mas o foco no subjetivismo e a recusa ao objetivismo vem não para instituir um reino de liberdade plena de escolhas.
O lance é que o indivíduo, para Sartre, não reconhece o resultado de sua ação porque ela se dilui no todo: a objetivação da sua subjetividade torna-se alienada. E ele só age com a finalidade de suprir alguma ausência (daí a idéia de projeto). Como todos agem ao mesmo tempo, os projetos individuais entram em choque e foram um todo que age contra o indivíduo e limita a sua ação(estrutura-viva).
No fim das contas, o que quero dizer é que Sartre não nega a materialidade (é ela quem constitui a consciência dos indivíduos, através da experiência); nem a influência de uma exterioridade no 'fazer' história dos indivíduos: se eles têm liberdade de escolha, esta liberdade se dá em um campo de possíveis já dado, porque construído historicamente(mesma idéia do Marx em 18 de brumário); nem a inexistência de relações sociais pautadas por uma materialidade.
Acho preocupante relegar esta última (relações sociais) ao universo das idéias (estou radicalizando seu argumento). Para mim, fica parecendo que você acabou comprando a idéia que Sartre queria negar.
Minha provocação: por que ler o Sartre com a chave do Geertz se o seu instrumental é marxista e Husserliano?

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Felipe

Bárbara, em primeiro lugar seria importante ressaltar que o que eu quis fazer aqui não é um resumo do existencialismo do Sartre. São apenas idéias minhas que, em grande parte, têm sido influenciadas pelas leituras que eu tenho feito. Aliás, eu admito que são leituras limitadas, já que eu nem cheguei a pôr em mãos algo mais denso que Sartre tenha escrito posteriormente ao "Ser e o Nada". De tal forma, não sei como ele faz essa união com o materialismo histórico (que só é feita posteriormente. Como você bem disse, é preciso sacar em que ponto da obra do Sartre eu estou tocando).

Quando ele fala da consciência, apenas diz que ela é formada pela experiência. E essa não é desinvestida de materialidade (é pura materialidade).

Foi exatamente isso que quis dizer! Ela é pura experiência e pura dialética na medida em que toda a sua intenção está voltada em apreender o mundo em seu sentido mais amplo.

O lance é que o indivíduo, para Sartre, não reconhece o resultado de sua ação porque ela se dilui no todo: a objetivação da sua subjetividade torna-se alienada. E ele só age com a finalidade de suprir alguma ausência (daí a idéia de projeto). Como todos agem ao mesmo tempo, os projetos individuais entram em choque e foram um todo que age contra o indivíduo e limita a sua ação(estrutura-viva).
No fim das contas, o que quero dizer é que Sartre não nega a materialidade (é ela quem constitui a consciência dos indivíduos, através da experiência); nem a influência de uma exterioridade no 'fazer' história dos indivíduos: se eles têm liberdade de escolha, esta liberdade se dá em um campo de possíveis já dado, porque construído historicamente(mesma idéia do Marx em 18 de brumário); nem a inexistência de relações sociais pautadas por uma materialidade.

Em nenhum momento eu disse que o espectro de decisões e as liberdades dos sujeitos eram ilimitados. Só quero afirmar que os sujeitos fazem sim escolhas e que há agência no mundo social. Agora, se você diz que Sartre coloca que as relações sociais são pautadas por uma materialidade, eu pediria que você explicitasse o que ele entende por 'materialidade'.

Por fim, não estou relegando as relações sociais ao mundo das idéias. Estou dizendo que as relações sociais em si são efêmeras porque existem apenas no limite do instante (em forma de experiência). No entanto essas experiências sociais constituem a maneira como os homens vêem o mundo e encaram as experiências seguintes, tendo assim, uma textura muito bem definida e cores que não desbotam facilmente. A narrativa histórica, portanto, não deve ser relegada a um 'espírito da história', 'modo de produção' ou a qualquer coisa que seja externa aos sujeitos. Quem constrói as experiências são esses sujeitos, assim como são eles mesmos que dizem qual deve ser a história a ser contada.

A minha briga, na verdade, é contra uma leitura marxista que enxerga nas complexas redes de relações entre os homens o substrato de uma metafísica social. Encaram-se, assim, forças sociais abstratas - que deveriam servir apenas analiticamente - como parte constitutiva deste mundo ideal com estatuto de concreto.

E respondendo à sua provocação: "por que ler o Sartre com a chave do Geertz se o seu instrumental é marxista e Husserliano?"

Ora - provocando novamente - exatamente porque eu não encaro as teorias como religião... hehe

7 comentários:

Andréa disse...

Lisonjeada por estar postada no seu blog! Hehe!!
Da sua resposta, eu queria fazer ainda só mais um comentário/ esclarecimento: não, não pressuponho que haja um espírito da história ou uma metafísica da história quando falo em processo histórico. Não é isso o que quero dizer quando digo que as relações se interligam independente de nossa consciência, não mesmo. O que estou dizendo é que seria simplesmente impossível que fossemos conscientes de todas as inter-relações que se encadeiam em nossas relações e ações, suas conseqüências, efeitos e as reações que provocam. O que não significa que eu ache que somos inconscientes de nossas relações. Significa só que não entendo como poderíamos ser conscientes de tudo o que elas provocam, e isso mesmo que a consciência trabalhe incessantemente. A não ser que tivéssemos por pressuposto uma superconsciência, ou um espírito que interligasse as consciências. Na verdade, o que eu estou dizendo se aproxima do que disse a Bárbara sobre a ação humana. Vou tentar explicar melhor como entendo as coisas. As nossas relações existem no momento em que estamos envolvidos nelas, mas suas conseqüências, seus efeitos e as reações que elas provocam só existiram a partir dos momentos seguintes, ou simultaneamente. Isso significa que para sermos plenamente conscientes das inter-relações em que se envolvem nossas relações e ações e de seus efeitos teríamos que ter um conhecimento completo do todo no qual estamos envolvidos, isto é, de toda a nossa sociedade, como também, em algum momento, adivinhar o futuro. Mas de todas as dificuldades que isso implica uma é essencial: como adivinhar as reações dos outros às nossas ações, como adivinhar como os outros interpretam nosso comportamento. Apesar de todos os códigos e normas e padrões sociais não imagino que isso seja possível, a não ser que desconsideremos a capacidade criativa que existe em toda ação e relação humana. Estamos condicionados quando agimos e nos relacionamos, inclusive por um mundo físico que nos é ‘exterior’, mas não estamos enclausurados nessas condicionantes; do contrário toda a história a vir a ser seria já desde o presente previsível. É simplesmente isso que chamo de processo histórico, esse encadeamento das relações e ações entre si que nos escapa, mesmo que sendo conscientes do que fazemos. Já fazer uma interpretação da história, indicar a ela um sentido; isso sim eu entendo que diga respeito ao uso de conceitos de análise e teorias, a uma leitura posterior e com base em uma visão de mundo e em teorias.

Nowhere Man disse...

Legal, gostei!
Acho que não foge muito do que eu penso também.

Bárbara Castro disse...

eu entendi sim, meu problema é com seu último parágrafo do primeiro e deste texto. entendo que você esteja devolvendo ao indivíduos a agência, mas acho um pouco ingênuo dizer que construímos a narrativa que quisermos. Acho que fica solto e por isso disse que as escolhas não são ilimitadas.
Quis destacar que a relação não é tão simples assim e que há outros fatores (não metafísicos, mas construídos historicamente)que influenciam na ação e na construção da narrativa.
Meu problema com seu texto foi menos por conta do Sartre (de quem também pouco conheço porque li o que minha cabeça me permitiu "entender" até agora), e mais por conta do que, para mim, ficou parecendo com uma despolitização do próprio ato de fazer história. saca?
quanto ao ser e o nada, aposto grana alta em como ninguém leu esse livro! rs!

Nowhere Man disse...

Gente do céu, eu nunca disse que as pessoas constroem a narrativa que elas querem...
E como eu deixei a entender que fazer história é algo despolitizado se eu disse que, em primeiro lugar, os homens de um determinado contexto escolhem a história que querem contar e, em segundo, a maneira como esses homens vêem e agem no mundo tem como parâmetros as interações sociais...

Bárbara Castro disse...

Hum... acho que este é o seu post "tropa de elite". você é o padilha e eu sou o markun. Os dois defendem o mesmo ponto de vista sobre a natureza do objeto abordado, mas discordam da maneira como ele foi construído. não acha?
:)

Nowhere Man disse...

Hahaha... Ainda não vi Tropa de Elite, mas me parece que a discussão gira exatamente em torno disso!

Carol Bazzo disse...

Porque não posso construir a narrativa que eu quero?
Sigam a receita da Mafalda, e vão todos à sorveteria. O IFCH poderia se dissolver num grande sorvete de morango. Com uma cereja em cima. Com confetes e cobertura.