quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Ângulos de uma manhã




De um ângulo
o sol inflete
e é apenas o sol
na sacada
é apenas manhã.

De outro
são seus cabelos
tarrafa negra
eram cacheados
lisos e presos.

Outro ainda
são seus músculos
deduzidos daquela
alvura toda
de madona.

E no mais
os lençóis é mosaico
e as horas são gentis
caleidoscópio
do que chamam “felicidade”.

Contudo
aquele ângulo absoluto
onde o sol não habita
a luz não refrata
a história para.

A seca perspectiva
do tempo da morte
um mendigo ao chão
se move neste ponto cego
que parece uma penetrante
obtusidade.

São seus olhos
este monumento
onde todas as palavras
refugam
com medo
deste inexplicável ruído
um deus sem obra

é o movimento das pálpebras
recortando a súplica
sem fundo
destes teus olhos

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