sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O silêncio de Prometeu




No texto mais antigo,
No manuscrito mais opaco,
Havia uma frase escrita:

"...e foi assim, num jogo de dados,
que, das mãos de uma criança, o homem
saiu da infância e tomou as rédeas do tempo."

Diz-se que, no entanto, logo em seguida,
Um monstro diabólico se apossou do jogo,
Aprisionou o fogo sagrado
E aferrou o herói às agruras do cotidiano.

E foi assim que, numa cisão brutal,
O homem saiu do divino e caiu no mito.

E, como castigo, como pena,
Fez-se do fogo que reluzia nos céus
A matéria da roda que gira sob os pés
Daqueles que, dia após dia, carregam o sofrimento terrestre.

Atados, assim, a essa triste fortuna,
Os resíduos do infinito nos são jogados:


Migalha por migalha,
Segundo após segundo,
Até que todas as cores se confundam
Num terrível tom ocre
E todos reinos sucumbam
Diante de um tempo

Que, sem alarde e sem surpresas,
Gargalhou da história dos homens
E tomou de assalto a felicidade.

2 comentários:

dansesurlamerde disse...

é tão triste.
belo, mas triste.

André disse...

estamos vendo tudo, mas preso a nós. ao dissolver-se, um pouco q seja, é qdo libertamos essa dor