quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Like tears in the rain
O belo espetáculo
da morte de uma constelação
Estende-se no tempo
para além de si:
dobra vagarosa do universo.
Da mesma forma,
a morte de um robô lança luz
sobre a experiência humana:
num ponto de calor, a intensidade da morte iminente
se transforma em pura poesia;
a experiência humana,
encontra seu paroxismo no salto quântico da história,
mostrando ao universo a beleza travestida de angústia,
explodindo em um milhão de cores
que se perdem no vácuo,
na dobra,
e se dispersam,
rarefeitas,
'like tears in the rain'.
O robô guarda a resposta para o silêncio do homem
em sua busca pela beleza fugidia:
'time to die'.
sábado, 20 de fevereiro de 2010
A Joachim na Montanha
Depois da tempestade
Insiste uma chuva fina em sacralizar o vento
E profanar o trovão.
Ouço um galo longe,
Lá onde rebatem os uivos do céu
E ressoam os sinos de luz: sobressaltos de Chronos.
A casa está vazia
E é lá de fora que entendo chamarem meu nome -
desconstruído, amassado, irreconhecível:
fonemas brutos, toscos, de outros arquitempos.
Sinto o apelo atravessar meu corpo nu
Pura carne, músculos tensos:
sorriso sacrificial.
O soçobrar dos tambores
Assusta o que resta de humano em mim:
os olhos pensos,
os ossos fatigados
e o constante destilar de um humor plúmbeo
Que não corroe,
Não mata,
Apenas faz sobre-viver.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
O silêncio de Prometeu
No texto mais antigo,
No manuscrito mais opaco,
Havia uma frase escrita:
"...e foi assim, num jogo de dados,
que, das mãos de uma criança, o homem
saiu da infância e tomou as rédeas do tempo."
Diz-se que, no entanto, logo em seguida,
Um monstro diabólico se apossou do jogo,
Aprisionou o fogo sagrado
E aferrou o herói às agruras do cotidiano.
E foi assim que, numa cisão brutal,
O homem saiu do divino e caiu no mito.
E, como castigo, como pena,
Fez-se do fogo que reluzia nos céus
A matéria da roda que gira sob os pés
Daqueles que, dia após dia, carregam o sofrimento terrestre.
Atados, assim, a essa triste fortuna,
Os resíduos do infinito nos são jogados:
Migalha por migalha,
Segundo após segundo,
Até que todas as cores se confundam
Num terrível tom ocre
E todos reinos sucumbam
Diante de um tempo
Que, sem alarde e sem surpresas,
Gargalhou da história dos homens
E tomou de assalto a felicidade.
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