quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Como se
O meu seio afoito
testemunha a apostasia
escorrer das contrações alheias
à ablação do ar no músculo cardíaco.
Qual quinhão de metáfora
não se estende entre sístoles e diástoles:
o sopro insubmisso,
capturado no entrefluxo,
como se remorso oblíquo
da imagem escorreita do amor.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Casa
Não se está na casa.
À meia luz,
não se está na casa:
não se vê o número na parede.
No lusco-fusco,
não se está;
que se toque
na pedra branca,
arenosa,
que se sintam, lentamente,
na palma da mão,
recuos ao infinito,
que se arranquem com as unhas
farelos calcados
de sua presença;
Não está.
O sol oblíquo no rosto,
os lábios rentes ao muro,
rarefazem-se as sílabas
do estranho sempre familiar:
“nunca
se está”.
Na casa,
não.
Apenas.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Rococó encapsulado
O sol se põe
sobre a profusão de casas brancas:
a cidade brilha
o reflexo de sorrisos capturados;
velhos pombos acasalam
sob frígidas telhas;
mancham de tons de cinzas
as paredes alvíssimas,
que cobrem as colinas
de espinhas dorsais retorcidas
até se perder de vista.
De novo.
De novo.
De novo.
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Seria o mesmo,
não fosse o calor da tinta fresca,
que ainda guarda o riso escarrado
da máquina estampante
deitando retratos,
de uma vida feliz,
de uma geração saciada.
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