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Sob o choque do relato funesto
O desejo se estabiliza, recua, congelado:
amarrado.
Sob a influência da gargalhada alheia
o desejo manifesta o escárnio no canto da boca;
mostra sua face cruel, animal e violenta.
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Em meio ao esfacelamento do Outro,
sob a égide da eterna dúvida
- que azeda o seio amigo -
o instinto se mostra errante, sempiterno;
salta pela janela e ganha a rua:
cheia de vultos, ela ri do desejo.
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A errância é sua essência, porém sempre velada;
deve ser velada: escondam os espelhos,
esconda sua própria carne, por favor.
Enquanto se equilibra na calçada, o desejo se moca de si,
é levado por sua curiosidade ao ritual macabro;
o desejo conhece, enfim, seu irmão gêmeo: o fraterno pária.
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Não sem pavor que é feita tal descoberta:
sob as máscaras escondem-se humanos
ou o monstro Dionísio?
Esquecendo-se de si, o desejo é satisfeito.
Sobre o altar, Caim afia a foice, da qual pinga o sangue maculado
das coisas escondidas, sufocadas, desde a fundação do mundo.
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