domingo, 16 de março de 2008

Goeldi

(o sinal passa do verde para o amarelo e, enfim, para o vermelho)

(a avenida vazia é vista em sua profundidade. A rua está molhada de uma garoa que caiu durante toda a noite. As luzes dos postes refletem no chão)

(vê-se o horizonte de prédios com poucas janelas acesas)

(um carro avança o sinal vermelho sem sequer diminuir a velocidade)

(de dentro do carro, olha-se por através do vidro ligeiramente embaçado e com pingos de água. Luzes em branco-amarelado e vermelho compõem a visão desfocada)

(as mãos do passageiro esfregam-se aflitas enquanto que a do motorista descansa sobre o câmbio)

(voz em off enquanto a câmera focaliza de perto o olho cansado do passageiro)

-Navalhadas reluzentes cortam os olhos

Daqueles que a madrugada engole


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(o carro pára no cruzamento de duas avenidas. a cidade está em completo silêncio. tomadas sucessivas distanciam-se do carro colocando-o em perspectiva da grande cidade)

(o sinal abre e o carro volta a andar)


(voz em off enquanto se vê a roda do carro em movimento)

A mente incandescente pede descanso.

Mas o sentido da luz é o centro da consciência...


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(o passageiro olha para fora enquanto luzes passam por seus olhos em uma freqüência definida)

(o passageiro luta para manter seus olhos abertos. Após algumas tentativas, ele sutilmente descansa sua cabeça sobre o vidro. As luzes agora parecem acariciar seus cabelos)

(na avenida, vê-se o carro vindo de longe, aproximando-se. Ele passa e sobra um vazio. Depois de alguns segundos, a voz em off diz:)

O homem só desliza sobre a cidade:

Organismo vivo

Sepulcro de milhares de flashes

Que, como o herói moderno, vivem e morrem

Sem sentido

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