quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Amor em quatro atos



O simples gesto de suas pálpebras
navalha, em consternada negação,
o meu ofegante pedido,
promessa:

"- Estaremos mortos?
- Somente quando o chão,
onde repisamos este grande cansaço,
finalmente ruir."

Meus olhos,
que se recusam a fechar-se,
atestam o vapor que exala do encontro de nossas peles:

"Todo amor é uma violenta despedida".

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Bom dia



Feri meus olhos
quando as barras da noite
puíam suas dobras
nas extremidades do horizonte.

(sempre julguei os teus olhos
o ponto escuro que suga a luz.
Hoje porém faíscam seus cristais
à menor claridade).

Acordei sem dormir
fitando tua calma.

O tempo escorreu neste rebatimento
tão desigual;

imóvel, respingou e envolveu a aurora
de uma severa anunciação:
"Palavras não há àquele cujo desespero
torna-se cansaço".

Bom dia.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Poema corpo




O corpo reduzido sente tomarem-lhe ar;
suas pálpebras tremem o odor da manhã.

(O sol, pressionando as barras do horizonte,
invade os orifícios do quarto,
a acariciar as persianas).

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O corpo reduzido é privado,
mas também se basta.

Seu buraco no peito não sangra,
apenas morre a morte reduzida.

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(O grafite arrastando-se confuso,
imola-se sem piedade ante a folha em branco:
tenta reaver as lembranças levadas por sonhos).

Num impossível erotismo,
o corpo consome-se num dizer sem êxtase.

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De olhos bem abertos,
as pupilas pedem alívio.

O corpo reduzido não jura contudo,
somente espera o secar da boca,

a clemência das horas.