quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Em busca de nuances





Depois de aprender, através de um lindíssimo trabalho do historiador da arte Michael Baxandall, como o contexto histórico de uma dada realidade social - mais especificamente a pintura no quattrocento italiano - promove a construção de uma sensibilidade aos códigos presentes em uma obra de arte, parei pra pensar na minha relação com a arte em geral e, mais especificamente, com a música. É incrível como pensar a arte como fruto de relações sociais e, principalmente, pensar a produção artística como uma aposta do autor na capacidade do seu público de identificar toda a simbologia que envolve sua criação nos abre uma perspectiva de análise maravilhosa.

Só é possível entender a arte em seu contexto. No entanto, ela não é um produto mecânico de uma época: não nos esqueçamos de que há pessoas pintando quadros e outras pessoas olhando para eles e se emocionando com eles. O bom pintor não se acomodará em contar uma história sobre as coisas do mundo de uma maneira fácil: sua arte não é uma caricatura de uma época. Viver na Itália do século XV significa criar certas disposições culurais - ou se preferirem os termos do Bourdieu, um habitus - que permitem acessar o conteúdo profundo de um quadro. A agência do pintor está em perceber que há maneiras de expandir como se pensa e se sente o mundo. Aí está a diferença entre uma arte que instiga e uma arte "mais do mesmo". Ambas se colocam entre o habitus e as demais coisas: no entanto uma se conforma e contar histórias já opacas e gastas enquanto a outra faz um acordo como o seu apreciador - "vamos além?".


Por isso que, quando eu teimo em escrever algo (seja música, seja essas besteirinhas aqui) eu tenho como grande meta ir além. E ir além não significa querer revolucionar tudo, mas sim expandir o sentido daquilo que está sendo trocado através de nuances.

Assim como os italianos renascentistas, eu acredito em nuances.

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