quinta-feira, 27 de setembro de 2007

A beleza antropológica


Este ano foi marcante para mim em diversos aspectos.

Em primeiro lugar, me senti muito mais livre para questionar antigos paradigmas que sempre nortearam a minha conduta e me permiti abrir-me para novas idéias e novas concepções de mundo. Passei a permitir que as coisas que eu sentia em relação ao meu contato com o mundo no seu sentido mais amplo também influenciassem na minha visão acerca das Ciências Sociais e, mais especificamente, da Antropologia.

Bem, um texto tem papel importante nesse movimento: "Os Usos da Diversidade", de Clifford Geertz. Seus escritos sempre mexeram comigo de alguma forma... Às vezes quando estou lendo o titio Geertz eu penso "Nossa, parece que estamos em sintonia...". Mas esse texto em especial eu posso dizer que me deu um novo fôlego acadêmico! Sempre me incomodou a idéia - que eu vejo muitas vezes cristalizada em algumas pessoas - de que eu teria que reproduzir, no futuro, um conhecimento acadêmico meramente formal. Ou seja, uma discussão vazia, que não acrescentasse em nada na vida das pessoas... E quando eu digo vida, eu quero mesmo dizer vida! É muito triste pensar que muitas vezes aprendemos só para ter a capacidade de exercer algum poder sobre alguma outra pessoa... Ou então simplesmente para subir, subir, subir na escadinha acadêmica e, depois...???

Pois bem, pensando nisso tudo: pensando no sentido mais profundo de estudarmos o outro, Geertz diz:

A tarefa da etnografia, ou uma delas em todo caso, é sem dúvida fornecer, como fazem a história e as artes, narrativas e cenários para refocalizar a nossa atenção; não, no entanto, os (cenários) que nos tornam aceitáveis para nós mesmos pela representação de outros reunidos dentro de mundos onde não queremos e não podemos chegar, mas os (cenários) que nos tornam visíveis para nós mesmos pela representação de nós e todos os demais postos no meio de um mundo cheio de estranhezas irremovíveis das quais não podemos nos manter distantes.

É exatamente esse tipo de conhecimento acadêmico que eu quero: aquele que me jogue no mundo, não o que me deixe à parte dele.



Obrigado mais uma vez, tio Geertz!

6 comentários:

Carol Bazzo disse...

Pena que mundo e Academia não combinam muito bem, na maioria das vezes (eu que o diga sobre isto, viu!)
Mas eu ainda acho ele um medroso-coredor-da-polícia! Hehe!
Estou lendo um livro que você ia gostar, etnografia de verdade, com gente de verdade, nomes de verdade fazendo coisas, dando opiniões, e que tem uma teoriazinha assim bem no fundo.
Se chama Street Corner Society, de William White.
(vc não acha que ficou esquisita esta história de "beleza antropológica" com uma foto do sujeito com estes cabelos escovados? hahaha!)

Diane Muste disse...

gostei do comentário que me antecedeu...

olha que interessante: até meados do século vinte, "scenario" era a palavra usada para designar o roteiro e não os elementos visuais, paisagistas, dos filmes.

cenários que se (e nos) revelam são também histórias.

beijos, fofinho.

Carol Bazzo disse...

Mas já leu até o White! É um talento!
;)

Sydnei Melo disse...

Isso seria uma reafirmação da busca pela "teoria e práxis"?

sempre acreditei que a antropologia possui um sentido extremamente forte de intervenção da visão e construção das relações...

o problema meu era lidar com a antropologia mesmo... ai...

André disse...

cara de quem curte suruba mesmo!

Lilian disse...

Esse seu post vem bem a calhar com a minha crise acadêmica (acho que já te falei dela em alguma conversa de msn)... Que, aliás, ainda não resolvi...
Por outro lado, tenho desejado transformar meu antigo flerte com a antropologia num relacionamento mais sério...rs. Quem sabe Geertz não me inspira?

Bem, quanto a "trocar as coisas delicadas da vida", sempre necessário, não acha? Fique à vontade, a casa é sua! (A metáfora é de um cara que visita meu blog de vez em quando...)

Beijos!