domingo, 30 de setembro de 2007

O trinco

-Escuta... Estou indo na padaria, você quer alguma coisa?

-Não, obrigado.

Colocou a mão na maçaneta e girou-a sem, no entanto, puxar a porta: o trinco se recolheu tensamente.

-Viu...



Passou os olhos rapidamente pelo apartamento iluminado por uma cortina semi-fechada; o chão de taco estava opaco. No sofá, o violão buscava acordes num caderninho rabiscado.

-Hum... O quê?

Os olhos colocavam-se em seu devido lugar: dentro de uma longa inspiração. O trinco continuava recolhido à sua posição de iminente inconstância; mas, desta vez, a porta balançava num vai-e-vem milimétrico. Ao fim da expiração, o trinco liberou sua tensão.

-Nada, já volto. Até mais...

-Até.





E nunca mais voltou.





Melhor para o trinco, que pôde continuar em sua deliciosa resignação.

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