Queria
ler aquele poema
do
Drummond
da
mesa cheia
mesa
vazia.
Queria
saber
que
seus olhos cinzas
veem.
Queria
uma
lembrança cintilante
Cajuru
nos anos 30
um
caco de vidro
garrafas
de leite
o
guincho de um porco
e a
tal mangueira
tão
impossível
no
quintal
que
já nem é nosso.
Queria
molhar
seus
pés de menina
descalços
no terraço
prendados
na praça.
Auscultar
sua música
um
traço borrado no
horizonte
entre
a luz
e a
sombra.
Lamber
suas pálpebras
pesadas
nas
madrugadas longas.
Queria
um chão familiar
chão
batido sobre outro
mais
ancestral
sobre
este
um
outro mundo
pra
lá de lá
onde
chove sal e o sol
não
fala português.
Queria
te chamar de tu
te
chamar de tu
quando as ilações
da
varanda
grassam no você.
Adentrar
sua dor
aquela
dor
tão
bem inscrita
rajada
em cinza.
Queria
ser poema
aquele
do Drummond
aquele
esquecido,
sabe?
Pra
sempre resto
folha na gaveta
folha na gaveta
uma
imagem:
a
mesa cheia
agora
vazia.