terça-feira, 4 de setembro de 2012

Sobre o feminino





Há certa ironia
em querer seus olhos
e seu corpo
adentrar abismos

e querer
seus seios
tocá-los
tê-los
e não os ter
sem o flerte da destruição

e não sentir
vertigem alguma
apenas os ter
pele contra pele
retina contra pálpebra

(pois seus olhos fecham
e os meus tergiversam
o impulso
de penetrá-los
profundamente).

Há certa tristeza
em tê-los
e certa violência
em tê-los
pois há

(que o desejo seja uma promessa e um segredo)

na fricção
meus dedos e sua pele
um jogo impassível:
eu detenho somente o desejo
você, a promessa e o segredo,
quebranto de 2+2=.

É uma verdade terrível
não haver para mim,
para você,
um ponto de partida
e outro de chegada

haver uma tristeza
e sombras de ancestralidade

e certo cinismo
que é o feminino
(o sinto em seus lábios).

E fogo.
E desejo.
E mutilação.

Pois seu seio sopra
o sopro do desejo.
Ele segura a chave
e um sabor férrico
de corte.

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