Indecifrável movimento da estrada.
Cadência misteriosa esta que não se acanha em suspirar em meio às minhas entranhas.
Passando a curva, desvela-se o horizonte:
Em cima, em cima, em cima
as nuvens anunciam chuva.
Mais do que isso,
a partir de sua base plana, elas crescem em direção aos céus.
Sutilmente agarram a noite e puxam-na para baixo, avisando-me que, por mais que assim pareça, as coisas não são eternas.
A estrada tem esse poder: conecta lugares sagrados.
Deliciosa efemeridade.
Inconfundível movimento da estrada.
Como uma antiga música triste, que no rádio me pega de surpresa,
como um bilhete desbotado,
indecifrável,
a estrada sussurra ternamente em nossos ouvidos a condição humana:
somos seres em trânsito,
seres sós.
terça-feira, 1 de janeiro de 2008
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2 comentários:
a estrada só encontra sentido no trânsito... e se parássemos nela? saberíamos só do tempo, mas não do rumo... será que eu parei? vejo o quanto passa, mas não passo. É estranho sentar no acostamento... sigo esperando a carona, você já me levou um tanto do caminho, com esse texto e as "escutações" (não gosto mais de conselho, vou banir do meu vocabulário).
beijo
Conecta lugares sagrados, mas os corta tb. Passamos por eles.
Assim como isto, as nuvens tb se embranquecem e se esvaem... tb temos luz.
E por conta da efemeridade das coisas, desta rapidez, é que sinto dentro de mim as palavras: não andeis sós.
Até.
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